Pedro Barrôso - Cantos à Terra-Madre (LP) (1982) *fraty*

Interprete : Pedro Barrôso
Album : Cantos à Terra-Madre
Musicos :
António Chainho - Guitarra portuguesa
António Veríssimo - Ferrinhos,sapateado
Carlos Augusto - Violas (6 e 12 cordas)
Carlos Arberto moniz - Violas
Luís Sá Pessoa - Violoncelos
Miguel Sá Pessoa - Piano,arranjos
Pedro Osório : Piano,acordeão,caixa,arranjos
Samuel Marques - Trancanholas
Henrique Marques - Trancanholas
Zé Calhau - Flautas,bombo
Pedro Barrôso - Concertina,harmónica,violas,cavaquinhos,adufes,bombo
Género : Típica\Folclore\Popular
Ano : 1982
Ficheiros : 11
Codificação : MP3
Velocidade de bits : 320
Qualidade : Boa
Extras : Sim

01 - Cantar Brejeiro
02 - Aprendi Cantos co’a Terra
03 - Concerto para Esperança e Orquestra
04 - Pela Vida Companheiros
05 - Cantarei
06 - A Piação dos Ninhou
07 - Tanta Gente
08 - Camarnal
09 - Avessada
10 - O Ramalhete Rubro das Papoulas
11 - Fandango Veríssimo



Mais um da colecção que o Luís me enviou,e a ele o meu obrigado.
Este foi o 6º album na carreira de Pedro Barroso.Fui à nossaradio.blogspot.pt (o seu a seu dono,um abraço para vocês meus caros),buscar este "pequeno" texto,com mais informação à cerca deste mesmo registo.
O LP seguinte, "Cantos à Terra-Madre" (Rádio Triunfo, 1982), é, como o título deixa antever, um álbum profundamente telúrico e, por isso mesmo, o que apresenta uma componente etnográfica mais vincada. O que aliás está em perfeita consonância com a actividade que Pedro Barroso desenvolvia ao tempo: pesquisa na área dos estudos etnomusicais, autoria e realização de programas de rádio ("Musicantes", na RDP-2, de 1979 a 81) e de televisão ("Musicarte", na RTP-1, em 1982 e "Tempo de Ensaio", na RTP-1, em 1988), com o nobre intuito de chamar a atenção para a importância do património musical de matriz tradicional, não raramente vítima de desprezo das cátedras e encarado como coisa culturalmente inferior.
A música tradicional e a música erudita sempre se influenciaram mutuamente e Pedro Barroso, partindo das suas pesquisas etnomusicológicas, mas nunca abdicando da sua criatividade pessoal, dá neste disco um contributo muito original na exploração dessas pontes. O elenco de músicos e instrumentos é exemplificativo dessa opção estética: Pedro Barroso (concertina, harmónica bocal, violas, cavaquinhos, adufes e bombo), António Chaínho (guitarra portuguesa), António Veríssimo (sapateado e ferrinhos), Carlos Augusto (violas de 6 e 12 cordas), Carlos Alberto Moniz (violas), Luís Sá Pessoa (violoncelos), Miguel Sá Pessoa (piano), Pedro Osório (piano, acordeão, caixa), Samuel e Henrique Marques (trancanholas "gémeas" - por serem gémeos...) e Zé Calhau (flautas e bombo).
Tal como já fizera com José Saramago, Pedro Barroso volta a musicar um dos nossos poetas maiores – Cesário Verde, no tema "O Ramalhete Rubro das Papoulas", que conta com um belo arranjo de flauta transversal, violoncelo e guitarra portuguesa. "Cantar Brejeiro", um tema de cariz mais imediatista, em ritmo de chula minhota, que abre o alinhamento, tornar-se-á um dos maiores êxitos do cantor. Do disco merecem ainda destaque: "Concerto para Esperança e Orquestra", em que o maestro Pedro Barroso dirige uma naipe de instrumentos solistas e gente; "Cantarei", uma espécie de testemunho de vida e de arte: «fiz-me andarilho a cantar / cantei noite cantei dia / canções do meu inventar»; "Pela Vida, Companheiros" e "Tanta Gente", dois temas de temática ecologista, numa altura em que o futuro do planeta estava longe de estar na ordem do dia, pelo menos em Portugal; e "Avessada", uma belíssima composição para guitarra clássica, violoncelo e flauta, baseada numa antiga melodia de embalar que a trisavó lhe entoava na idade do berço.
Mário Correia escreveu assim sobre o disco: «Síntese do múltiplo na procura do uno na diversidade é o álbum "Cantos à Terra-Madre" através do qual Pedro Barroso agarra na música tradicional para elaborar uma proposta musical digna de toda a atenção. Esta obra corresponde às palavras do seu autor, "reformular-se, revoltar-se, abrir-se, renovar-se e envelhecer. Amadurecer em anos de perseverança difícil e de saudade". Crónicas da terra – os balhos da eira dos avós, o fandango ribatejano, os cantares de acusação e aviso, o dialecto minderico e a amostra de que a "música clássica e a agrária não estão assim tão distantes uma da outra como isso" – que Pedro Barroso interpreta, num diálogo "com o amor que da terra vem e à terra regressa connosco nos olhos e ouvidos, em corpo e fantasia"» (in "Música Popular Portuguesa: Um Ponto de Partida", Centelha/Mundo da Canção, 1984).